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MEADOS DE VIDA EM JANEIRO | Natanael Paula2022jan15 | lançamento

Atualizado: 21 de jan. de 2022

Gazeta de Cascais e um caso de Justiça 15

Meia de Leite e uma torrada de Perdão 33

Hora e meia de Gratidão 43

Trágica consulta de Loucura 79

Velório embriagado e um pouco de Paz 93


Para começar os meus parabéns ao amigo Natanael Paula pelas horas de recolhimento, descoberta, deleite literário e de relaxamento, ontem à noite em que quase de um fôlego li MEADOS DE VIDA EM JANEIRO, e a água que me ficou na boca de novos títulos e exploração como “luz e sal” na nossa cultura literária – a luz na praça pública do nosso quotidiano e o sal fora do saleiro. Permitam-me divagar no que as narrativas deste livro borbulharam dentro de mim, porque o livro deixa de ser propriedade exclusiva do autor, a partir do momento que o temos na mão e o lemos – ele passa também a ser nosso, não apenas porque o pagámos mas porque mexe e remexe connosco.


A visibilidade/invisibilidade de Deus na história humana. Onde está Deus? Quem é Deus? Ele aparece disfarçado de colega, de desconhecido, de médico, de professor ou de aluno, de varredor, de agricultor, de engenheiro, de artista, de contador de histórias ou de pastor.

O valor de uma história de vida, do conto, ilustração ou parábola; do romance e da ficção no ensino-aprendizagem. Como professor do secundário há quase 40 anos verifico isso todos os dias na sala de aula. Se hoje me pedissem uma só palavra para contextualizar e centrar a ação pedagógica diria sem hesitar RELACIONAMENTOS! Os recursos tecnológicos e as metodologias têm o seu lugar, mas nada substitui a relação pessoal. A tribo Xhosa tem um dito com um profundo significado e implicações: “Pessoas precisam de pessoas para serem pessoas”. O telemóvel e o digital são pequenos demais e estreitam os nossos horizontes, mirram o coração e os afetos. Relacionamentos é investir no futuro, porque a qualquer altura as sementes brotam mesmo não estando lá para fazer uma festa”. “O semeador sai a semear” na agricultura da vida e os terrenos são diversos (pedregosos, pejados de ervas daninhas, áridos e calcados pelos transeuntes despreocupados, ou um terreno devidamente arado). A preparação do terreno deixa marcas e exige determinação, tempo, sujar as mãos, talvez arranhões ou feridas profundas, incompreensões – a vida toda! O poder de uma palavra… para o bem e o mal! O valor do reforço positivo, das pedagogias ativas e inclusivas, do trabalho cooperativo, da descoberta, do diálogo – de histórias das quais discretamente começamos a fazer parte. O resultado pode acontecer no último suspiro “lembra-te de mim” e “ainda hoje estarás comigo”. O aluno terrível que, entretanto, já está a concluir o curso de arquitetura!


Quanta coisa acontece num só dia e tantas vezes na nossa concha ou no nosso muro de lamentações perdemos a oportunidade de ouvir e de sermos ouvidos, e aí encontrarmos a luz ao fundo do túnel.


O que está para lá das aparências, o lado em tons de cinza das “vidas cor-de-rosa”, o lado lunar de todos. Mergulhados no nosso umbigo passa-nos despercebido a trama individual de cada pessoa com que nos cruzamos. E como somos apressados a julgar, a condenar e pouco ou nada propensos a ver a trave que está nos nossos olhos, antes de ajudar a remover o cisco dos olhos do outro de quem estamos tão distantes que nem sequer o podemos alcançar. O poder do toque! A falta que nos faz o abraço! Ou então porque a maldade se multiplica que o amor esfria e ficamos tolhidos pela indiferença, a apatia, o eco da justificação de Caim: “sou eu porventura tutor do meu irmão”? Resultado do passa-culpas que não resolve nada: a mulher que me deste, a serpente, o tentador, o sistema… e no início ou fim dos pressupostos para nada fazer… DEUS!


A vida é um processo pontuado de eventos. Desse processo nem sempre nos apercebemos quando nos isolamos entre muralhas que vamos erguendo ou que os outros nos vão impondo e que nós adotamos. O que somos ainda não é definitivo porque a obra ainda não está concluída, e o passado não tem de ser uma prisão. Porque o que nós não conseguimos na nossa solidão, Aquele Que É – O EU SOU O QUE SOU, pode!


O valor de uma comunidade e o valor de pertença. Uma família onde não vale a meritocracia, mas uma comunidade de graça – “ama-me quando menos mereço, porque é quando mais necessito” (Jaume Funes, Planeta), um lugar onde é proibida a entrada a pessoas perfeitas (John Burke, Vida), onde ninguém desiste de ninguém porque tudo é possível ao que crê! Uma comunidade como um corpo e não uma linha de produção, e de modo algum um “negócio de almas”. Uma comunidade na qual todas as partes do corpo são igualmente imprescindíveis para o todo. Uma orquestra em que o flautim não pode ser dispensado.


Os pré-determinismos genéticos, sociológicos, culturais e espirituais confrontados com a relação pessoal, o interesse genuíno, “a empatia, a aceitação incondicional positiva, a congruência e genuidade” (Rogers), ameaçados com a esperança de que é possível virar a página. O cognitivo, o emocional, o volitivo e o espiritual. Amputados de cada um delas estamos desfalcados e o equilíbrio num banco de em que falta uma perna não é confortável. Somos um todo no privado e no público, no descanso e no trabalho, na família e na empresa.


O protagonista oculto. A figura histórica que dividiu a histórica num antes e depois, e que dividiu e divide a história de vida dos que se deixam encontrar. De Nazaré pode vir alguma coisa boa? Quando estavas debaixo da figueira eu te vi! O amigo dos publicanos e pecadores, dos leprosos, dos doentes, famintos, o que não esmaga a cana quebrada nem o pavio que ainda fumega… JESUS – a luz reprodutora/multiplicadora de luzes!


A visibilidade/invisibilidade de Deus na história humana. Onde está Deus? Quem é Deus? Ele aparece disfarçado de colega, de desconhecido, de médico, de professor ou de aluno, de varredor, de agricultor, de engenheiro, de artista, de contador de histórias ou de pastor. A resposta está nas mãos dos seus agentes anónimos, sem rótulos na testa, despojados do proselitismo e do legalismo religioso. A perseverança que vê para além da sua própria morte física no tempo. O que os outros podem ver e que nos está oculto. “Aprendam de mim que sou manso (brando, paciente) e humilde de coração”.


O valor de sermos próximos e não temermos o outro que não é o inimigo, que não são o inferno, que não são os nossos iguais na etnia, na classe social – académica, profissional, financeira. O próximo é aquele do qual nos aproximamos sem preconceitos – e como isso é difícil. Quem é o meu próximo – judeu ou samaritano, judeu ou gentio, rico ou pobre, ateu ou crente, heterossexual ou homossexual, emigrante ou imigrante, branco ou negro, leigo ou sacerdote? O próximo é aquele de quem me aproximo como igual, mesmo que esteja na valeta maltratado pelos salteadores da vida. E de repente o sacerdócio universal de todos os crentes é a realidade que faz a diferença. A lógica do poder ou do serviço? “Quando fizeram isto a um destes pequeninos (os presos, os doentes, os carenciados, as vítimas de bullying, de violência doméstica), foi a mim que o fizeram”. Somos íman ou repelente? A necessidade de dois ouvidos atentos! O milagre do 70x7 – “quantas vezes devo perdoar?”, em lugar da vingança, da retaliação e da amargura; e a vida renasce, morre-se e ressuscita-se, nasce-se de novo, uma nova criação e filiação.


Quando uma borboleta bate as asas do outro lado do mundo os efeitos fazem-se sentir do nosso lado. Quando respiramos fé, esperança e amor, a diferença acontece e repercute-se.


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