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"Ó terra, terra, terra! Ouve a palavra do Senhor!"

Recuando no tempo, o número de cópias em todo o tempo antes de Cristo, no tempo de Cristo, no início da igreja, no seu crescimento e desenvolvimento, na Reforma Protestante e podemos dizer até à imprensa de Gutenberg, as cópias do texto sagrado eram escassas.



Recuando no tempo, o número de cópias em todo o tempo antes de Cristo, no tempo de Cristo, no início da igreja, no seu crescimento e desenvolvimento, na Reforma Protestante e podemos dizer até à imprensa de Gutenberg, as cópias do texto sagrado eram escassas. Existia um rolo para uma comunidade como era o caso das sinagogas onde todos podiam ouvir a sua leitura, exposição e ensino. Até ao fim do primeiro século todo o cânone do Novo Testamento estava concluído, mas as igrejas em cada cidade ainda não tinham acesso a todo conjunto dos livros: evangelhos, livro histórico, cartas e o livro profético que encerra a biblioteca sagrada.


Neste tempo a transmissão oral era muito poderosa. As pessoas, desde criança, como Moisés ensina no livro de Deuteronómio, capítulo 6, decoravam a narrativa bíblica, a Lei e os mandamentos. “O Senhor, vosso Deus, disse-me para vos dar todos estes estatutos que devem cumprir na terra onde em breve vão entrar e onde vão passar a viver. A finalidade desses preceitos é levar-vos, a vocês, aos vossos filhos e aos vossos descendentes a temer ao Senhor, vosso Deus, através da obediência às suas instruções todo o tempo que viverem. Se o fizerem, terão uma vida longa e muitos anos de prosperidade pela frente. Portanto, ó Israel, atenta cuidadosamente para cada um desses mandamentos e procura cumpri-los rigorosamente, para que tudo te vá bem e para que te multipliques como nação. Se obedecerem a estes regulamentos tornar-se-ão numa grande nação nessa terra onde jorra leite e mel, tal como vos prometeu o Senhor, Deus de vossos pais.” (Deuteronómio 6:1-3 – O Livro).

Como dissemos atrás podemos ler e ouvir a Bíblia, mas não lhe dedicamos o tempo que ela merece e nós carecemos.

Hoje nós somos uns privilegiados. Cada um de nós tem acesso a várias traduções da Bíblia no nosso idioma e, como nunca, temos a Bíblia ao alcance de um número considerável de línguas e dialetos. Do papiro, passámos para o papel e hoje o digital que nos permite ter no nosso telemóvel o texto sagrado em várias traduções e com possibilidade da sua comparação, dicionários, comentários.


Contraditoriamente não podemos afirmar que vivemos à altura da disponibilidade dos recursos e a iliteracia bíblica, é flagrante. Como dissemos atrás podemos ler e ouvir a Bíblia, mas não lhe dedicamos o tempo que ela merece e nós carecemos. A sua leitura é essencial para a vida cristã. Podemos mesmo dizer que não existe vida cristã de verdade sem o conhecimento da Palavra de Deus. É claro que se temos à nossa disposição um número ímpar de traduções, existem muitos concorrentes como sejam os comentadores humanos, as teologias de várias procedências, muitas considerações humanas, muitos oradores. Tantas vezes a Bíblia desaparece em todo este ruído. Não estou a colocar em causa os ministérios de ensino das sagradas letras, mas estes sempre elevam o texto de inspiração do Espírito Santo, e o que fica da sua exposição e ensino é a proeminência da revelação bíblica e a iluminação que o Espírito Santo projeta sobre o texto.

O que Deus quis dizer, os escritores disseram.

Deus fala a nossa língua e a língua de toda a pessoa neste planeta, agora e ao longo de toda a História. O que Deus quis dizer, os escritores disseram. A Palavra não é dos homens, mas divina, embora com as palavras dos homens. A comunicação é um dom divino com que Deus nos capacitou na imagem e semelhança com que nos fez. Falou por palavras e falou pela vida de pessoas, especialmente e de forma única e inexcedível pelo Filho. Ele é o Verbo divino. A sua comunicação é vida e viva. Em Jesus o Criador nos fala na essência do Filho de Deus e do Homem, na Sua vida, nas Suas decisões, comportamento e atitudes; na Sua obediência incondicional e na sua dependência, bem como na confiança e no amor trinitário; bem no Seu ensino oral. Hoje tudo isso está à nossa disposição para sermos e vivermos do mesmo jeito em confiança, dependência e obediência.

Mas Deus fala-nos de forma clara. Podemos entender o que ele nos comunica, e no conhecimento do todo, interpretamos o sentido de cada parte. Mas não estamos sozinhos nessa intenção, Aquele inspirou os escritores vive em todos os que são filhos de Deus e ilumina o sentido do texto acompanhando-nos na exegese e na hermenêutica, o sentido que tinha para os destinatários no início e o que continua a significar para cada um de nós hoje em dia, sem distorções. O Espírito conhece-nos por dentro e por fora, em todo o nosso percurso de ontem, ao hoje e ao futuro; as nossas lentes culturais, e os efeitos das experiências porque passámos. Ele sabe e conhece. Assim Ele conhece a língua que falamos em bom português, mas conhece a linguagem do nosso coração e da nossa essência. Quando somos feitos filhos de Deus recebemos uma nova natureza espiritual, e é nessa condição que podemos perceber o texto que Deus colocou nas nossas mãos. Melhor do que isto é impossível. Deus fala-nos em bom português!


Samuel R. Pinheiro



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