Nos tempos em que Jesus andou por esta terra e lidou com os religiosos do seu tempo, os que supostamente seriam os representantes de Deus e os portadores da Sua Palavra e Seus preceitos, aconteceram situações para nós impensáveis, mas que não estarão muito longe do que a religião é especialista em criar ainda hoje em dia.
Segundo o relato do escritor do primeiro evangelho, alguns fariseus e escribas expressaram a sua reprovação a Jesus pelo fato dos Seus discípulos não lavarem as mãos quando comiam. Segundo uma nota de explicação de Russell P. Shedd, na Bíblia Vida Nova: “A tradição da lavagem das mãos era simples higiene antes das refeições. Veio a ser um tipo de purificação ritual para afastar a mínima possibilidade de a pessoa ter sido contaminada pela poeira advinda de algum pagão. A ocupação dos romanos intensificou o legalismo, na tentativa de atingir ‘a santidade’ e conseguir o socorro necessário de Deus para a expulsão dos pagãos. Não percebiam, porém, que certas interpretações tinham já violado a verdadeira lei.”
É esta a armadilha em que a religião tende a envolver os seus paladinos. Um conjunto alargado de preceitos meramente formais que aprisionam, asfixiam, oprimem, dividem e excluem. Dão a impressão de que Deus é um ser mesquinho que se entretém com ninharias. Os religiosos tornam-se juízes que condenam os outros, inventando cargas para lançar sobre os ombros do povo, lançando acusações, vivendo da culpa.
Foi isto que Jesus encontrou. Um profundo e entranhado engano sobre quem Deus é e o modo como Ele age em relação aos homens.
Jesus responde demonstrando o que de mais perverso o homem e a religião são capazes de fazer: interpretar a palavra de Deus fazendo dela o contrário do que ela é. Era isso mesmo que eles faziam sobre o mandamento de honrar o pai e a mãe. Tradições que invalidavam a palavra de Deus, atribuindo a Deus o que era devido aos seus progenitores.
Como conclusão, Jesus adianta usando para isso as palavras do profeta Isaías: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.”
A partir desta situação que desvirtuava a verdade sobre Deus e a Sua vontade, Jesus aproveita-a para dar a conhecer a verdade divina: “Não é o que entra pela boca o que contamina o homem, mas o que sai da boca, isto, sim, contamina o homem.”
Como se os Seus amigos mais próximos não entendessem o que queria dizer, Jesus explicou de forma bem clara e objetiva: “Não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o ventre, e depois é lançado em lugar escuso? Mas o que sai da boca, vem do coração, e isso é o que contamina o homem, porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfémias. São estas coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as mãos, não o contamina.” (Mateus 15:1-20).
O problema do homem está no seu coração, na essência do seu ser, é daí que procede tudo o que está de errado e todo o mal. E Jesus veio para resolver essa situação que o homem por si próprio não pode tratar. Mudar por dentro é o que Deus pode fazer. É um milagre que só Ele pode realizar.
Ter cuidado com a nossa alimentação é algo que devemos ter na devida ponderação, em virtude de devermos tratar bem do nosso corpo e todo o restante do nosso ser. Mas não devemos descorar a nossa identidade, a nossa condição espiritual. O problema não são os pecados, mas a natureza pecaminosa da nossa natureza. Para alcançarmos um fruto diferente da árvore que somos, é tem de mudar o seu DNA espiritual! E isso foi o que Jesus veio tornar possível. Podemos dizer ainda que o problema do homem não é o pecado nem os pecados, mas aceitar de boa vontade e com gratidão a oferta de perdão que Jesus nos estende. Ninguém ficará para sempre separado de Deus porque é pecador e peca, mas porque não recebe o perdão que Ele lhe oferece mediante a Sua morte e ressurreição. O pecado mata e não prescreve. Só a morte de Jesus Cristo tem o poder de o destruir, aniquilar, exterminar. Isso é necessariamente algo que não entendemos, mas não sabemos toda a extensão do que é o pecado e os seus desdobramentos. O facto é que Aquele que sabe o que o pecado é, e as suas consequências no tempo e na eternidade, decidiu pela única possibilidade de dar cabo dele – a morte de Jesus Cristo! Isto torna o Evangelho totalmente diferente do que é a religião! Não é de mais regras e juízes religiosos que precisamos, mas do perdão divino mediante a cruz!
Samuel R. Pinheiro
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